28 de janeiro de 2020

Com o advento do email e das redes sociais, se um carteiro toca a sua campainha é provável que traga uma conta ou más notícias. Mas após a prisão de Lula da Silva, libertado em novembro passado depois de uma condenação por corrupção tê-lo encarcerado por um ano e meio, milhares de partidários do ex-presidente voltaram a comprar selos. A razão?

Uma campanha do Partido dos Trabalhadores (PT) que parece inspirada no mítico filme “Central do Brasil”, do diretor Walter Salles, no qual a personagem interpretada por Fernanda Montenegro escrevia cartas para migrantes analfabetos na estação central de trens do Rio de Janeiro.

Lula, sou um trabalhador como o senhor, que sofreu ao lado dos pobres”, ditava um homem a um jovem voluntário da campanha no centro de Belo Horizonte. “Meus três filhos entraram na faculdade graças ao seu governo e em 1987, por lhe defender, perdi um emprego”.

Esta é uma das mais de 30 mil cartas recebidas por Lula da Silva durante os 580 dias que esteve preso em Curitiba (Paraná) que um grupo de pesquisadores brasileiros, argentinos e franceses digitalizou, com a ajuda de voluntários, e agora pretende transformar em filme, de acordo com fontes do Instituto Lula citados pela Prensa Latina.

“São relatos emocionantes de gente que mudou de vida por causa da política”

Maud Chirio

Um trabalho espetacular que estes historiadores publicaram no site Linhas de Luta e a partir do qual, inclusive, chegaram a realizar uma leitura em um teatro parisiense, da qual participaram reconhecidos artistas, políticos e intelectuais, como o cantor Chico Buarque, a atriz Maria de Medeiros, o ex-deputado Jean Willys e a filósofa Márcia Tiburi.

A política muda vidas
De acordo com a historiadora francesa Maud Chirio, fundadora da Rede Europeia para a Democracia no Brasil (RED.Br), que informou o ex-presidente da existência do projeto na semana passada, “estas cartas não são apenas sobre Lula, mas sobre a democracia, a solidariedade e sobre como as políticas públicas mudaram as vidas das pessoas.”

“Quando tivemos contato com estas cartas ficou bastante óbvio quão valiosas elas eram”, disse Chirio. “São relatos emocionantes de gente que mudou de vida por causa da política”.

A pesquisadora também afirmou que, tanto o difícil momento político atravessado pelo Brasil, com as restrições de liberdade impostas pelo governo ultra-direitista de Jair Bolsonaro, quanto os ataques ao Instituto Lula, fizeram com que ela temesse pela segurança das cartas.

“Nós avaliamos que este material está em risco devido à perseguição que ocorre aqui (no Brasil) e, como historiadores, nos dedicamos a divulgar e preservar a riqueza destas cartas”, concluiu.

Ainda que detalhes sobre o filme não tenham sido divulgados, dentre as cartas é possível encontrar algumas escritas por grandes personalidades como o Papa Francisco, que em 3 de maio passado respondeu a uma missiva de Lula dizendo-lhe para ter “coragem” e o exortando a “continuar confiando em Deus”.

Al Día