Lula para a Conferência de Solidariedade à América Latina: “A luta ainda não acabou”
Confira abaixo a carta de Lula lida durante a Conferência de Solidariedade à América Latina, ocorrida neste sábado, 23 de novembro de 2019, no Reino Unido:
Queridas companheiras e queridos companheiros,
Quero saudar todas as companheiras e todos os companheiros britânicos e de outros países que estão participando dessa Conferência de Solidariedade à América Latina e parabenizar a iniciativa da Trades Union Congress (TUC) e das demais entidades de organizar esse importante evento.
Em nossa região, durante mais de uma década, vínhamos construindo um modelo de desenvolvimento socialmente e ambientalmente sustentável e alicerçado no fortalecimento da democracia e dos direitos humanos, na integração dos nossos povos e na cada vez mais expressiva realização dos direitos daqueles que mais necessitam: os excluídos, as mulheres, os negros, indígenas, trabalhadores e trabalhadoras, pessoas discriminadas e perseguidas.
No entanto, as elites latino-americanas não sabem conviver com a democracia e com a inclusão social dos mais pobres, e aquele caminho de desenvolvimento e ampliação de direitos foi interrompido por métodos antidemocráticos que incluem a manipulação do sistema judicial para a perseguição política – o lawfare – a interdição do debate e o envenenamento da sociedade pela disseminação industrial do ódio e das mentiras das fake news.
Depois de passar 580 dias preso e de receber inúmeras demonstrações de solidariedade vindas de todo o mundo, eu posso afirmar que a luta ainda não acabou. A campanha “Lula Livre” tem pela frente uma batalha ainda maior e mais decisiva: seguirei lutando para provar minha inocência, por justiça, democracia e os direitos da classe trabalhadora.
No Brasil, seguiremos resistindo a um governo que não respeita a democracia, os direitos humanos, trabalhistas e sociais e muito menos o meio ambiente: como o mundo pode assistir no caso dos recentes incêndios que atingiram a Amazônia ou no desastre causado pelo derramamento de óleo na costa do nordeste brasileiro. Vamos vencer essa luta, porque provamos que é possível governar para as pessoas mais necessitadas, levar os pobres às universidades, gerar emprego e prosperidade.
A América Latina passa por momentos decisivos. Ao mesmo tempo em que acontecem enormes mobilizações populares em toda região – além da vitória eleitoral de Alberto Fernández na Argentina – o companheiro Evo Morales sofreu um golpe de Estado na Bolívia. Diferentemente dos recentes golpes em Honduras, Paraguai e também no Brasil, que tentaram simular uma capa de institucionalidade, o golpe na Bolívia repete métodos sangrentos dos golpes de Estado nas décadas de 1960 e 1970. Tenho certeza que se o golpe de Estado na Bolívia não sofrer o mais absoluto repúdio da comunidade internacional, golpes militares poderão voltar a ser corriqueiros em nossa região.
Por fim, mais uma vez gostaria de registrar toda a minha emoção com as diversas mobilizações e declarações de solidariedade organizadas pelo movimento sindical internacional e demais organizações sociais do Reino Unido e de todo o mundo – como as Trades Union Congress (TUC) e seus sindicatos. Eu não esperava tanto carinho e solidariedade. Esses gestos não alcançam apenas a mim, mas a todas e todos que defendem a democracia e a justiça no Brasil e sofrem consequências dessa luta.
Um abraço fraterno,
Luiz Inácio Lula da Silva
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