28 de abril de 2018

O Brasil está sob o domínio ditatorial, apesar da aparência de normalidade jurídica e constitucional. Malgrado as contradições, cada um com seu papel, são responsáveis por essa ditadura o governo do presidente ilegítimo, o presidente da Câmara, setores do Poder Judiciario, do Ministério Público, a Polícia Federal e a Mídia, sob hegemonia da Globo.

As contradições no bloco do poder se tornam cada vez mais evidentes e agudas e as medidas excepcionais se exacerbam. Torquemadas da Lava Jato se insurgem contra medidas legalistas de uma parte do STF, uma juíza de execuções penais afronta direitos individuais e humanos e, mesmo sob o risco de ser penalizada, resolve submeter o presidente Lula à condição de encarceramento solitário. Impenitente, proíbe um Prêmio Nobel da Paz, líderes religiosos, advogados e até um médico de visitar o presidente, um preso político que só pode ter contato, segundo essa lógica discricionária, com os advogados nomeados nos autos e a família, esta uma vez por semana.

São fatos chocantes a revelar e exigir que por cima de todas as lutas se imponha a batalha pela democracia, hoje sintetizada na luta pela libertação de Lula e pelo seu direito a candidatar-se nas eleições presidenciais de 7 de outubro vindouro.

O consórcio golpista necessita de que Lula permaneça preso e politicamente interditado. Seu projeto de continuidade no poder, empalmado por meio de um golpe de Estado, depende deste outro golpe: vencer eleições fraudadas, porque fraudulentas serão quaisquer contendas eleitorais disputadas com a proibição da candidatura do líder nas intenções de votos, segundo todas as sondagens disponíveis até aqui.

Para além de ser um sinal de aprofundamento do golpe, vale advertir que esta propensão ao continuísmo por meios fraudulentos é uma perigosa aventura que pode comprometer o futuro da nação. Não haverá estabilidade política e, muito embora as fragilidades atuais dos movimentos sociais e populares, não é necessário ter bola de cristal para antever que a intentona resultará, mais dia, menos dia, em convulsão social. O regime das classes dominantes constituído como poder de forças minoritárias e golpistas levará o país ao abismo. Foi este o destino da ditadura militar, da nova República e dos oito anos de FHC. Não há caminho viável para o Brasil além da via democrática e popular.

Resultará em aventura também a conduta tática e estratégica de forças que, considerando a longa permanência de Lula na prisão como inevitável, associada ao suposto corolário da desagregação do PT, apostam em herdar os votos do ex-presidente. Calculam mal e demonstram nada conhecer de cálculo político. Baseiam-se em falsas receitas de conquista de hegemonia.

Não há atalho para a esquerda no Brasil. O camino da resistência pode parecer longo e penoso, mas é o único que acumula forças. Construir a unidade, combater o hegemonismo pretendendo aplicar golpes de mão, de cariz também hegemonista, é oportunismo vulgar.

É auspicioso que o ex-prefeito de São Paulo e o ex-governador do Ceará conversem entre si e façam prospecção de cenários, discutam com economistas representativos de setores nacionalistas da burguesia ou da burguesaia monopolista, gestão que precisa expandir-se para o núcleo dirigente do PT e dos demais partidos de esquerda, como o PCdoB e o PSOL. Um esforço coerente de frente única tem que pôr à mesa as principais forças políticas da esquerda e os movimentos sindicais e populares, incluindo a Frente Brasil Popular.

É também virtuoso o movimento que visa a consolidar um programa de unidade democrática, patriótica e popular, cujo ponto de partida é o documento das fundações do PCdoB, PT, PDT e PSOL. Construir passo a passo a unidade é a tarefa maior a que devem dedicar-se as forças de esquerda consequentes do país.

Mas é deletério impor desde já uma chapa, uma candidatura a presidente e sua vice, para além de outros entendimentos, apagando a resistência e decretando a morte política de Lula.

A primeira opção da esquerda na enorme crise que vivemos é a resistência, não a capitulação conveniente. Mais dialética, mais firmeza, mais consequência e mais seriedade é o mínimo que se espera como método das forças consequentes da esquerda sobre as quais recai a grande responsabilidade de abrir perspectivas e construir alternativas para o país.

 

José Reinaldo Carvalho é jornalista, editor do Resistência. Membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB.

Publicado originalmente no Resistência.