24 de novembro de 2018

Quem chega à Vigília Lula Livre, em Curitiba, qualquer que seja o dia, é recebido por uma mulher de cabelos vermelhos e camiseta estampada com a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela é Izabel Aparecida Fernandes, uma paranaense de 59 anos, que diz ter sua história de vida perpassada pela história do ex-presidente.

Filha de imigrantes portugueses, Izabel conta que passou a primeira infância em terras assentadas em Querência do Norte, no Noroeste do Paraná. A família teve que deixar o município quando grileiros os expulsaram, reivindicando a posse da terra. De lá, foram para Assis Chateaubriand, no Oeste do estado.

A rotina na juventude era de trabalho na lavoura, com os pais. Até o dia em que Izabel conheceu as irmãs “Servas dos Pobres” e decidiu “arriscar a vida de missionária”. Do interior do Paraná seguiu para Roma, na Itália, com a missão de cuidar de crianças e idosos pobres.

Lula dos pobres
“A gente dividia o que a gente tinha. Era chamado “bocado do pobre”: se você tem uma colher de arroz para você, tira metade daquela colher de arroz e faz o pratinho do pobre”, assim Izabel explica que começou sua conscientização política.

Foi também na Itália, a partir do contato com sindicatos de trabalhadores, que ela ouviu falar pela primeira vez em um “operário que iria revolucionar o Brasil”. Izabel viu na política de Lula semelhanças com o trabalho missionário que ela fazia.

“Para ser um cristão verdadeiro, tem que olhar o pobre e ajudar, não pode simplesmente olhar o pobre e largar pra lá. Eu vejo o Lula nesse sentido de estar junto com os pobres. Lula é um dos maiores cristãos que eu conheci em toda a minha vida”, diz.

Depois de três anos e meio na Itália, Izabel voltou para o Brasil, fez mais uma missão na Ilha de Superagui, no Paraná, e decidiu abandonar a vida de missionária. Mudou-se para o interior de São Paulo, em busca de oportunidades melhores de trabalho. Lá, foi operária de uma indústria de eletrônicos e começou sua militância no Partido dos Trabalhadores.

Era a década de 1990, o Brasil estava sob a Presidência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Izabel conta que foram anos difíceis, de salário congelado. A dificuldade financeira foi aprofundada depois que teve que iniciar tratamento para uma tendinite grave, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). As viagens intermunicipais entre Salto de Itu e Campinas pesavam no orçamento mensal.

“Quando eu ia para a Unicamp, tinha que passar fome, porque se gastasse cinco centavos do dinheiro da passagem, não tinha como voltar, então eu ficava o dia inteiro sem comer”, lembra.

Lutar a vida toda
A vida começou a melhorar após a primeira eleição de Lula, em 2002. Izabel diz que nos governos de Lula e Dilma Rousseff, ela conseguiu tirar a habilitação de motorista, comprar um carro, terminar a casa própria e pagar um plano de saúde.

“A gente estava bem. Mas a partir de 2016, a gente caiu de novo. Tive que vender o carro, parar com o plano de saúde, agora já não compro mais aquilo que eu queria comprar. Já ficou mais difícil”, diz.

De volta à Curitiba, já aposentada em decorrência das lesões causadas pela tendinite, Izabel fala com pesar sobre a atual conjuntura brasileira. Ela entende que o ex-presidente Lula foi preso injustamente e, por isso, é preciso defender sua liberdade. Diariamente, Izabel pega três ônibus para cruzar Curitiba – do bairro Sítio Cercado, na região sul, até o Santa Cândida, região norte – e chegar à Vigília Lula Livre.

“Eu fiz e faço tudo pelo Lula, porque ele fez muito por mim. Então, eu não vou deixá-lo de jeito nenhum. Ele me tirou lá de baixo, me deu de comer, deu a oportunidade de eu ter minha casa. Eu tenho certeza que um por um dos brasileiros pobres sabe daquilo que o Lula fez”, afirma.

Certa dos ideais que defende, Izabel fala que continuará na Vigília enquanto o ex-presidente estiver mantido preso, e só sairá da militância quando não estiver mais viva. “Eu nasci pobre e eu sempre lutei pelos pobres. Lutar está dentro da gente e é para a vida toda”, diz.

Edição: Cecília Figueiredo | Foto: Joka Madruga / Agência PT
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