29 de agosto de 2018

Escrevo em resposta ao editorial do ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso a quem, há 16 anos, eu servia como embaixador no Reino Unido (“A visão de Lula do Brasil é uma ficção prejudicial”, 22 de agosto).

Após Luiz Inácio Lula da Silva ter sido eleito presidente do Brasil, em outubro de 2002, batendo seu rival que pertencia ao mesmo partido que Cardoso por uma margem muito confortável, se seguiram oito anos de prosperidade e avanços na justiça social. Isso se refletiu nos níveis de popularidade nunca alcançados por qualquer outro presidente brasileiro. As políticas de Lula inspiraram respeito e admiração em todo o mundo.

Ao contrário de alguns neoconservadores da época de George W. Bush, que em 2002 pensavam que uma vitória de Lula colocaria o Brasil no “eixo do mal”, Cardoso é uma pessoa altamente inteligente e culta, um renomado sociólogo, responsável pela chamada Teoria da Dependência, que em um momento foi muito popular nos círculos acadêmicos. Ele foi um dos principais líderes do movimento político que resultou no fim da ditadura militar.

Como alguém que sonhava com um Brasil democrático, eu nunca imaginei que chegaria o dia em que um verdadeiro representante da classe trabalhadora se tornaria presidente. É com decepção que vejo a amargura com a qual o ex- presidente descreve a luta de Lula para provar sua inocência.

Lula é de longe o candidato preferido da maioria dos brasileiros. Um grande número de juristas, estadistas e intelectuais de todo o mundo têm enfatizado que a liberdade de Lula e seu direito de concorrer à presidência são essenciais para a consolidação da democracia no Brasil.

Em 17 de agosto, o Comitê de Direitos Humanos da ONU solicitou ao Brasil que tomasse “todas as medidas necessárias” para garantir os direitos políticos de Lula enquanto os recursos ainda estão pendentes. Nossas autoridades judiciais agora enfrentam o “desafio” de cumprir suas repetidas proclamações de respeito pelas normas internacionais relativas aos direitos humanos.

Celso Amorim
Rio de Janeiro, Brasil

 

Financial Times