9 de outubro de 2018

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O mundo está assistindo às eleições brasileiras provavelmente como nunca antes. “Jair Bolsonaro, a mais recente ameaça da América Latina”, grita a manchete na capa da The Economist. Essa conservadora revista britânica adoraria ver o PT desaparecer da política brasileira. Mas nem eles têm estômago para Bolsonaro, que, em 2016, dedicou seu voto para afastar a presidente Dilma Rousseff ao coronel responsável por sua tortura.

Muitos fizeram a comparação com Donald Trump e, claro, há semelhanças – especialmente no racismo aberto e na misoginia dos dois políticos. E ambos devem grande parte de sua ascensão ao fracasso das políticas econômicas neoliberais. Mas a trajetória do Brasil para um cenário de ameaça ainda mais perigoso é uma reação de direita das tradicionais e corruptas elites do país contra as reformas econômicas positivas do PT, que beneficiaram a grande maioria dos brasileiros.

Em 2014, sob as Presidências de Lula e Dilma, a pobreza havia diminuído em 55%, a pobreza extrema em 65%, e o desemprego atingiu uma baixa recorde de 4,9%. Alguns desses ganhos foram perdidos quando a economia entrou em profunda recessão naquele ano, e a direita aproveitou-se dessa crise para se apoderar do que não puderam ganhar nas urnas em quatro eleições consecutivas.

Eles impugnaram Dilma e a tiraram do cargo sem nem sequer acusá-la de um crime; e então o juiz Sergio Moro mandou Lula para a prisão por um “suborno” que ele nunca aceitou, em um “julgamento” sem evidência material. O governo dos EUA enviou especialistas de seu Departamento de Justiça para “ajudar” nas investigações, e discretamente mostrou apoio à remoção de Dilma.

Mas a maior parte do eleitorado brasileiro podia ver que, embora todos os principais partidos políticos estivessem afetados pela corrupção, a decapitação do Partido dos Trabalhadores não era sobre justiça. Lula manteve a liderança nas pesquisas mesmo após sua condenação. E assim, tornou-se necessário proibir Lula de concorrer à Presidência, prendê-lo e restringir seu acesso à mídia.

Não funcionou; Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e escolha original de Lula para candidato a vice-presidente, subiu rapidamente nas pesquisas e muito provavelmente enfrentará Bolsonaro no segundo turno das eleições.

Algumas vozes importantes da mídia, que estão envergonhadas demais para apoiar abertamente Bolsonaro, tentaram pintar essa eleição como uma disputa entre “extremistas” da direita e da esquerda. Mas esta é uma equivalência falsa e perigosa. Haddad é um socialdemocrata moderado, um rótulo que também descreve razoavelmente bem as políticas de Lula e Dilma antes dele. Elas permitiram que a economia crescesse muito mais rapidamente do que durante os anos FHC, expandiram os programas de transferência condicionada de renda para os pobres, aumentaram o salário mínimo e aumentaram o investimento público.

Por outro lado, a emenda constitucional do atual governo para congelar os gastos reais do governo por 20 anos é uma medida extremista até mesmo para a grande maioria dos economistas. Esse extremismo tem gerado um extremismo ainda mais virulento junto com a política do medo e do ódio.

Bolsonaro e outros ex-militares – incluindo seu candidato a vice-presidente – levantaram dúvidas sobre a aceitação de resultados eleitorais indesejados. Pela primeira vez em décadas, a ameaça de uma ditadura militar está emergindo. Nenhum jornalismo responsável deve ignorar essa ameaça nem legitimar o extremismo que a fortalece. E qualquer um que se importe com a democracia no Brasil terá que apoiar o adversário de Bolsonaro no segundo turno da eleição.

Mark Weisbrot é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy. É também autor do livro “Failed: What the ‘Experts’ Got Wrong About the Global Economy” (2015, Oxford University Press).