Coletivos de brasileiros pelo mundo lançam ‘Lula Day’ em 27 de outubro
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ganhou o Prêmio Nobel da Paz, para o qual foi indicado pelo ativista argentino, e vencedor da homenagem em 1980, Adolfo Pérez Esquivel. Mas admiradores dele, em várias partes do mundo, preparam o “Lula Day”, uma homenagem no dia 27 de outubro, data de seu aniversário.
Eventos estão confirmados na Espanha (Madrid), Portugal (Lisboa), França (Paris), Itália (Verona, Ravena e Bolonha), Alemanha (Berlim), Inglaterra (Londres), Estados Unidos (Nova York) e na Bélgica.
“A ideia veio de ‘plagiar’ o Mandela Day e porque reconhecemos a inocência de Lula e, principalmente, o legado dele por pensar e agir com honestidade e amor pela população carente”, conta ao GGN a ativista Gabriela Lima, brasileira que hoje vive e trabalha na Itália.
Ela sugeriu a ação para outra companheira de militância, Giuditta Ribeiro que, em pouco mais de duas semanas de organização, conseguiu a adesão de coletivos políticos formados por brasileiros em vários países.
No Brasil, grupos pró-Lula também aderiram à proposta e devem realizar festividades e atos em favor do ex-presidente em diversos pontos do país no dia do seu aniversário.
“Lula não pode ser esquecido, tem que ficar na memória por tudo o que ele fez pelo nosso Brasil”, defende Giuditta. “Eu acho que [o Lula Day] deve ser um memorial, um legado, que nós todos devemos levar avante para aqueles que estão por vir conhecerem sua história”, reforça a militante.
O “Mandela Day”, usado como inspiração para os movimentos que defendem o ex-presidente Lula, é comemorado todo 18 de julho, dia de nascimento do ex-mandatário da África da Sul que ficou conhecido pela luta contra o regime de segregação entre brancos e negros em seu país, o Apartheid. A data comemorativa foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em novembro de 2009, reconhecendo sua contribuição de Mandela “para a cultura, paz e liberdade” e “dedicação ao serviço da humanidade através de seu trabalho nas áreas de resolução de conflitos relações inter-raciais”.
Giuditta explica que o objetivo central do Lula Day vai além de reconhecer a inocência do ex-presidente, porque inclui o papel dele em causas que buscam maior inclusão e igualdade social no Brasil.
“Lula é livre em cada um de nós, Lula é história e, Lula Day, é um ato de memória”, diz o texto inicial do projeto usado na articulação da “manifestação global” da festividade.
O desejo do grupo é que, assim como no “Mandela Day”, o “Lula Day” se repita todos os anos. Eles ainda destacam que o tom maior dos eventos neste ano será contra “a prisão injusta e ilegítima do maior líder político da história do Brasil”.
O cartunista Fernando Carvall, que está colaborando com a padronização das imagens de divulgação dos atos do dia 27 de outubro, avalia que Lula “é um símbolo mundial”.
“Ele foi o melhor presidente, conseguiu unir desenvolvimento com inclusão social, tinha, tem, um projeto de país, para todos, sobretudo os mais pobres. Por conta disso, hoje, é um preso político”, considera.
Papel social
Entre 2003 e 2007, período que marca o primeiro mandato petista, a taxa de desnutrição no Brasil passou de 11% para 5%. No mesmo intervalo de tempo, a extrema pobreza caiu 50,6%, segundo relatório da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito a partir de dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo também mostrou que, entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010, a pobreza no país caiu 16,3%, duas vezes o percentual registrado no período 2002 e 2008, quando a queda foi de 8,2%.
Em 2014, já no primeiro mandato da sucessora de Lula, a ex-presidente Dilma, a ONU decidiu retirar o Brasil do mapa da fome.
Uma página chamada “Lula Day” foi criada no Facebook com informações dos locais onde as festividades serão realizadas.
Em Nova York, três coletivos se juntaram para as festividades que começam no 26 e 27 e terminam em 27 de outubro.
“Serão dois eventos. No primeiro, será lançado pelo [coletivo] Brando, um ato na Grand Central (estação ferroviária de NY), no dia 27. O segundo evento, nos dias 26 e 27, será um Art Show, com exibição artística de pinturas, fotografias, música, sobre racismo, direitos das mulheres, LGBTs, povos indígenas e direitos ambientais. Também vai acontecer um teach-in sobre a situação atual de Lula como preso político”, explica Giuditta.
Prisão questionada
O ex-presidente cumpre pena em regime fechado na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, no Paraná, desde 7 de abril de 2018, condenado, na primeira e na segunda instância do Judiciário, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo que investigou propina supostamente dada pela empreiteira OAS através da compra de um apartamento no Guarujá.
Desde o dia 23 de setembro, Lula passou a ter direito a progressão do regime fechado para o semiaberto. No entanto, em nota assinada pelo seu advogado Cristiano Zanin, o ex-presidente negou solicitar a mudança do cumprimento de pena “porque busca o restabelecimento de sua liberdade plena, com o reconhecimento de que foi vítima de processos corrompidos por nulidades, como a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro.”
A condenação de Lula está envolta em indícios de intencionalidade política por parte do órgão acusador, o Ministério Público Federal, representado pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, e do então juiz Sergio Moro, que veio a se tornar ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, o principal beneficiado na eleição passada com a prisão de Lula.
A defesa do ex-presidente entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de suspeição contra Sergio Moro. A ação questiona a idoneidade do então juiz para julgar os casos envolvendo o petista.
Os advogados de Lula incluíram no pedido de suspeição as revelações divulgadas pelo The Intercept Brasil, de mensagens trocadas entre os procuradores e o então juiz Sergio Moro, mostrando a aproximação entre o julgador e o órgão de acusação nos processos da Lava Jato.
Nesta sexta-feira (11), o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, afirmou que se a Corte decidir pela suspeição de Moro, os processos contra Lula devem voltar à fase de denúncia, o que anularia as condenações do ex-presidente em dois processos: o do triplex do Guarujá e o do Sítio de Atibaia.