Protesto “Lula Livre” em Paris mobiliza políticos da esquerda francesa
No Brasil, uma série de atos em 17 estados lembra hoje o primeiro aniversário da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 12 anos e um mês no caso do triplex do Guarujá. Protestos em outros 15 países também recordam a data. Em Paris, manifestantes se reuniram na Praça do Trocadéro, diante da Torre Eiffel, e a mobilização contou com a presença do líder da esquerda radical na França, Jean-Luc Mélenchon.
Dezenas de manifestantes chegaram por volta das 15h na Praça de Trocadéro, perto da Torre Eiffel, com faixas de “Lula Livre”, além de cartazes e fotos do ex-presidente brasileiro.
Jean-Luc Mélenchon, líder do partido da esquerda radical A França Insubmissa, fez um discurso de cerca de dez minutos. Ele afirmou que a chegada de Lula ao poder trouxe mudanças na América Latina e um novo fôlego para a esquerda mundial e denunciou uma prisão política e ameaçadora para a democracia.
“É uma circunstância inacreditável e nos enche de emoção saber que Lula está preso. Nós que o conhecemos de perto temos a impressão de que o destino o está castigando, após a doença, com a morte de entes queridos e a condenação a vários anos”, disse Mélenchon diante de dezenas de manifestantes.
“Os verdadeiros corruptos são os que colocaram Lula na prisão. O corrupto é o juiz [Sérgio Moro] que o condenou e se tornou ministro da suposta Justiça do presidente neofascista Jair Bolsonaro”, prosseguiu o líder da esquerda francesa. “É a primeira vez que prendemos um candidato em plena campanha eleitoral para ter certeza de que ele vai perder e para eleger alguém da extrema direita.”
Segundo o político, certos partidos franceses poderiam ficar “tentados” a repetir o “golpe” que ele afirma ter acontecido no Brasil. “Nós vemos que uma união entre mídia, polícia e Justiça leva ao que aconteceu no Brasil. São os mesmos argumentos usados contra nós. Tememos ver o mesmo sistema se espalhar por todos os países onde o ‘império’ se sinta ameaçado”, reflete Mélenchon.
“Jardim dos EUA”
Para o deputado Eric Coquerel, também do partido França Insubmissa, entrevistado pela RFI, a prisão de Lula representa uma face da “contrarrevolução” que ocorre na América Latina para barrar os avanços dos últimos 20 anos. Um movimento, segundo ele, liderado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Nós somos contra tudo o que está acontecendo, também na Venezuela e em Cuba. Se Lula não estivesse na prisão ele seria presidente atualmente”, afirma Coquerel. “Trump está aplicando a doutrina Monroe, fazendo com que a América Latina se torne o ‘jardim’ dos EUA. Não concordamos com isso e acredito que é simbólico exigir a libertação de Lula.”
Segundo Jean Pierre Pinot, representante do Partido Comunista Francês (PCF), que também fez discurso para os manifestantes, a condenação de Lula não faz sentido. “Prender alguém para impedí-lo de ser candidato, mesmo sendo popular e tendo tirado milhões da miséria? Somos obrigados a protestar hoje.”
Pinot ressalta que os políticos do mundo todo devem se preocupar com a prisão de Lula, pois são “os valores de esquerda que sempre guiaram Lula. É preciso mostrar que há um caminho, o acesso à universidade para as famílias pobres, os direitos das mulheres e das minorias…”
Brasileiros protestam na França
Aline Ramos, manifestante que veio de Bordeaux à Paris para a ocasião, disse que a ideia do protesto também é educar parte da sociedade francesa sobre a situação brasileira, que segundo ela é mal interpretada pela imprensa internacional. “Lula foi um dos únicos presidentes do Brasil que realmente se importou com a população desfavorecida e com as minorias. Hoje ele está preso injustamente por ter tido essa atitude de ter olhado para os mais pobres, ter acreditado na potência do Brasil e que o país tem que ser soberano e não um ‘tapetinho’ dos EUA”, diz a militante.
A turista Sandra Nascimento, de Fortaleza, está fazendo turismo em Paris e decidiu participar da manifestação. “Ele continua sendo nosso presidente, que o povo brasileiro quer. Ele foi uma libertação. O único momento que fui feliz na minha vida foi durante a gestão do Partido dos Trabalhadores (PT). Lula é um preso político e precisamos reagir a essa situação, o Brasil está nas mãos do fascismo.”
Marta Almeida afirma ter contribuído para a fundação do PT no Brasil e mora em Paris há cerca de 30 anos. “Nesse momento, estamos de volta ao passado. Não esperava que fosse acontecer isso, infelizmente hoje o Brasil vive o caos político”, disse à RFI.
Alguns turistas que passavam pelo local gritaram “Lula ladrão” e os manifestantes responderam com berros de “golpistas”. Com exceção desse incidente, o protesto ocorreu sem conflitos.
RFI | Foto: reprodução