Lula é esperança de unidade também na América Latina
De todas as manifestações de solidariedade provenientes do exterior ao presidente Lula e ao povo brasileiro, uma merece destaque especial, pelo contexto geopolítico e ideológico. A entrevista – a primeira que concedeu desde o seu isolamento no cárcere curitibano – ao jornal Granma, órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba.
O contexto geopolítico corresponde à importância que se atribui na região à luta para que Lula seja o quanto antes libertado da injusta prisão e tenha assegurado seu direito a ser candidato à Presidência da República no gigante do Cruzeiro do Sul.
Há uma clara expectativa de que o Brasil volte a ser democrático e independente e é consistente a opinião nos círculos políticos de esquerda da região de que o nome capaz de reabrir os caminhos para isto é o de Lula, à frente de ampla coalizão de forças de esquerda, progressistas, democráticas, patrióticas e anti-imperialistas.
A importância geopolítica da entrevista de Lula reside também nas próprias declarações que deu ao Granma sobre a região: “A América Latina viveu nas últimas décadas seu momento mais forte de democracia e conquistas sociais. Mas recentemente as elites da região estão tentando impor um modelo onde o jogo democrático só é válido quando eles ganham, o que, claro, não é democracia. Então é uma tentativa de fazer uma democracia sem o povo. Quando não sai do jeito que eles querem, eles mudam as regras do jogo para beneficiar a visão de uma pequena minoria. Isso é muito sério. E estamos vendo isso, não só na América Latina, mas em todo o mundo, um aumento da intolerância e perseguição política. Isso aconteceu no Brasil, na Argentina, no Equador e em outros países”.
Quanto ao contexto ideológico, destaca-se a posição de firme apoio político advindo do principal partido político da esquerda em toda a região latino-americana e caribenha, o Partido Comunista de Cuba.
Tal posição será acompanhada pelo conjunto dos partidos de esquerda da região e dezenas de observadores de todas as partes do mundo, que se reunirão em Havana entre os dias 15 e 17 de julho no 24º Encontro Anual do Foro de São Paulo, articulação de partidos políticos da esquerda regional, fundada pelo próprio Lula em 1990, num encontro histórico na cidade de São Paulo.
A eleição de um presidente de ultradireita na Colômbia no último domingo (17) é reveladora do grau de ofensiva antidemocrática, antinacional e anti-integração continental em curso. Um resultado eleitoral que põe em risco os acordos de paz assinados entre o governo nacional e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). No quadro da adesão à Otan, anunciada pelo presidente Juan Manuel Santos no apagar das luzes do seu mandato, a soberania nacional colombiana fica seriamente ameaçada e cria-se um clima de insegurança e ameaças à paz na região. Agrava-se o cerco à Venezuela bolivariana e reforça-se o arco de uma aliança reacionária da qual faz parte objetiva e subjetivamente o governo golpista brasileiro do presidente ilegítimo Michel Temer.
As forças progressistas no Brasil e na região estão ainda mais acossadas por uma pressão para renunciar a suas bandeiras, deixando-se levar pelo fatalismo, pelo pânico e para adotar a posição capitulacionista de que “não há o que fazer em face de tamanha ofensiva da direita”. E – o que é pior – contaminadas pelo veneno da fragmentação.
Resistência e luta, são os valores e as posições a opor a esta pressão. Não haverá mudança de correlação de forças – de per si um processo objetivamente difícil – se não houver lucidez e vontade dos sujeitos políticos e ideológicos que conformam os fatores subjetivos.
E sobretudo, unidade, como fator gerador de esperança e impulsionador da luta.
A história está repleta de exemplos de que quando se afirma na teoria e na prática a unidade em torno de uma liderança forte, com autoridade política e moral, de uma direção coletiva política e ideologicamente capaz e quando esta adota postura firme de luta e ligação com o povo, ao representar seus anseios e empalmar suas reivindicações mais sentidas, é possível deter a marcha restauradora contrarrevolucionária. As grandes lutas mais recentes do povo brasileiro – Diretas Já, Constituinte, eleições de Lula e Dilma – são exemplos disto.
Os estrategistas do imperialismo e das forças conservadoras nos países latino-americanos sabem que para alcançar êxito na realização dos seus desígnios de implantar a ferro e fogo o neoliberalismo, saquear as riquezas nacionais, socavar a independência nacional, liquidar a integração soberana, é indispensável dividir e derrotar as forças de esquerda e progressistas e impedir que jamais voltem ao governo central.
Mais do que nunca, aumenta a responsabilidade das forças de vanguarda para construir a unidade amais ampla possível entre as forças de esquerda, progressistas, democráticas, populares, patrióticas, pela reversão do golpe, a reconquista de posições e o avanço na realização das reformas estruturais democráticas, indispensáveis ao desenvolvimento nacional, ao resgate da democracia e ao progresso social.
Este é o sentido de uma das mensagens enviadas por Lula na entrevista ao Granma: “vamos precisar de muita organização para voltar a ter um governo popular, com soberania, inclusão social e desenvolvimento econômico no Brasil”.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e Comissão Política Nacional do PCdoB.
Publicado originalmente pelo Resistência.