14 de abril de 2018
Photo: Ricardo Moraes/Reuters

O Brasil atravessa um mar revolto. Enfrenta a ofensiva das forças conservadoras respaldadas pelo imperialismo estadunidense e um crescente acirrar dos ânimos que dão espaço para a violência e o fascismo. O último episódio arbitrário já condenado internacionalmente é a negação ao direito a habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o subsequente decreto de prisão de Lula, emitido na quinta-feira (5) por um juiz que atropelou as leis.

Neste momento, o povo brasileiro articula-se na defesa da liberdade do ex-presidente Lula, a maior liderança popular do país. Lula é reconhecido internacionalmente por promover conquistas históricas num país mergulhado na desigualdade estrutural, na exploração, na submissão à agenda estrangeira e na opressão.

O contexto brasileiro remete à estratégia imperialista que há décadas o movimento internacional da paz vem denunciando. A chamada “mudança de regime”, através da ingerência direta ou indireta, é parte e parcela do impulso de dominação mundial ao qual os povos resistem e as forças progressistas se opõem.

As forças conservadoras brasileiras foram derrotadas em quatro eleições presidenciais sucessivas e não conseguiram retomar suas posições no governo através do voto. Em 2016, com o impeachment da presidenta legítima, Dilma Rousseff, desferiram um golpe de estado, contando com o apoio do poder Judiciário, da maioria parlamentar e da mídia oligopolista. A prisão de Lula corresponde a uma nova etapa do golpe. Os reacionários visam tirá-lo da disputa eleitoral e estigmatizar sua imagem. Tudo fazem para afastar Lula do povo, pois têm consciência do quanto ele representa no processo de luta pela democracia, os direitos sociais e a soberania nacional.

A luta contra o neoliberalismo em toda a América Latina foi sempre ferrenha, haja vista a agressividade das intentonas golpistas em diversos países, tanto as que se concretizaram como as que foram rechaçadas, como na valente Venezuela Bolivariana, graças à resistência e ao apoio popular ao governo progressista de Maduro— já que é daí que a Revolução tira a sua legitimidade.

No Brasil, a ofensiva se acirra, o regime golpista vilipendia a democracia, tolhe os direitos do povo e atenta contra a soberania nacional. Entrega os recursos mais estratégicos da nação ao capital estrangeiro. O fascismo encontra terreno fértil no espetáculo de linchamentos morais, políticos e jurídicos montado por uma mídia alinhada ao que há de mais conservador e retrógrado.

O ambiente de antagonismos e manifestações sedentas de sangue é cultivado pelas manchetes dos jornais da grande burguesia monopolista e pronunciamentos políticos de juízes já há muito desmascarados. Lideranças populares e partidárias sofrem acosso ou são assassinadas e, recentemente, em viagem pelo Brasil, em que Lula recebeu massivo apoio popular, o ônibus que o conduzia chegou a ser alvo de ataques não só com pedras, mas também tiros, de uma gangue fascista— sobre o que a “justiça” nada fez. Também já há gravíssimas denúncias de expressões de indivíduos violentos que poderiam até atentar contra a vida do ex-presidente.

Lula foi perseguido, condenado sem provas e ilegitimamente encarcerado, vítima do ódio da casa-grande decadente, cujas figuras mais destacadas no Poder Judiciário refletem o cinismo e o total desapreço à Constituição da qual são os guardiões. É o caso da prisão de Lula já efetiva ainda antes de concluído o trânsito em julgado, ou seja, o esgotamento de todos os recursos jurídicos, direito de todo cidadão. Essas figuras transformam a leitura das peças em que proferem seus votos e pronunciam as sentenças condenatórias em comícios, nos quais buscam, com rocambolesca linguagem, dissimular a ignominiosa perseguição ao maior líder popular do Brasil.

Recentemente, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, acreditou-se no direito de emitir um ultimato velado às instituições democráticas, dando a entender que as Forças Armadas as estão vigiando para possivelmente intervir. A ameaça à democracia merece o mais veemente repúdio.

Já parlamentares da direita e a elite em geral usam do maior instrumento à disposição no Brasil, a mídia, para tentar a destruição completa de um oponente tão popular como Lula, com horas a fio de difamação, uma ofensiva deletéria, sem precedentes. E apesar de toda a agressão contra Lula, contra o seu partido, contra todas as forças progressistas e democráticas, as organizações sociais que defendem o país e a democracia, e dezenas de milhões de eleitores, são estes os acusados de violentos, quando expressam sua revolta e indignação.

Os tempos são de grandes desafios e de enorme necessidade de luta diante da agressividade das forças reacionárias, que promovem o retorno do Brasil ao passado de submissão, de privilégios, exploração e opressão. Mas a resistência do povo brasileiro se aprofunda.

A solidariedade nacional e internacional ao presidente Lula reflete a convicção da importância do processo de emancipação social e política de nosso país e a gigantesca contribuição do ex-presidente Lula na construção do projeto de país soberano, insubmisso, democrático e de justiça social, que faça avançar o Brasil e seu povo.

Este projeto e a figura emblemática do metalúrgico são o alvo das elites mais retrógradas e inimigas de tudo o que lembra distribuição de riqueza e democratização do poder. São alvo dos arautos do neoliberalismo, do neocolonialismo e seus promotores nacionais antipatriotas. Por isso, resta ao povo brasileiro reforçar a resistência, a luta, a unidade e a esperança.

As forças democráticas, trabalhadores e trabalhadoras, jovens, estudantes, enfim, todos os movimentos sociais e cidadãos preocupados com o futuro do país voltam às ruas e às praças com a determinação de aí permanecer, em luta constante pela liberdade de Lula. Cada escola, casa, local de trabalho, sindicato, esquina, povoado, bairro, cidade, será trincheira nesta luta!

Somos todos Lula da Silva!
Lula livre!
Abaixo o golpe! Pelo resgate do Estado de Direito!

 

Socorro Gomes foi deputada federal, presidiu o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Lula pela Paz (Cebrapaz) e atualmente preside o Conselho Mundial da Paz.

Publicado originalmente no site do Cebrapaz.